O presente capítulo busca analisar a emergência de uma cruzada moral em oposição à chamada “ideologia de gênero” no Brasil dos últimos anos. Como forma de reação à consolidação acadêmica da área de gênero e de políticas públicas voltadas às diferenças na escola, argumenta-se que, por meio de diversos atores (religiosos, políticos e midiáticos) fomentou-se medos e temores sociais em relação a mudanças nos padrões morais da sociedade, no que tange ao reconhecimento das desigualdades entre homens e mulheres, mas especialmente na abordagem escolar das formas dissidentes de experienciar gênero e sexualidade. O texto analisa a formação de uma cruzada moral contrária à “ideologia de gênero” nas mídias digitais, com o foco em dois canais de YouTube que se destacam por serem mantidos por “empreendedoras morais” voltadas à oposição ao feminismo e às políticas centradas em gênero e sexualidade. A partir de uma pesquisa preliminar, buscou-se evidenciar de que modo as YouTubers se inserem em um contexto político marcado pela emergência desta cruzada moral e como suas posições também se relacionam com a lógica das relações sociais mediadas pelas plataformas digitais, com centralidade para o YouTube.